28 de fev. de 2010

Preciosa - Uma História de Esperança (2009)


16 anos: negra, obesa, grávida, sofre agressões da mãe e foi abusada sexualmente diversas vezes pelo próprio pai. Parece até que está sendo anunciada uma matéria jornalística, mas trata-se da trama de Preciosa - Uma História de Esperança - um prato cheio para os filmes dramáticos. Os temas não são novidades, diversas vezes já foram tratados na grande tela. Uns filmes são memoráveis outros, porém, são descartáveis. Nem mesmo por isso esses temas não deixam de ser atraentes para o público. O público que considera o cinema uma forma de alienação.

Quando você sabe do que se trata Preciosa pode até ter certo preconceito em vê-lo. E o sentimento de culpa por julgá-lo antes mesmo de assisti-lo é imediato. Lee Daniels nos entrega uma belíssima estória de temas que são jogados na cara da sociedade constantemente e que, justamente por isso, acaba caindo no esquecimento. O medo é por ser um filme que carrega um peso bem negativo pudesse prender as pessoas. O seu atrativo é por não ser nada melancólico, embora haja às cenas comoventes, óbvio, é percebível que o diretor faz de tudo para que não tomem seu filme como apelativo. Preciosa não deve jamais ser dito como um filme comercial. É um assunto que atrai muita gente que gosta de tragédia ou de chorar vendo filme.

A trama se passa no Harlem, em Nova York nos anos 80. Sua mãe Mary, que não se cansa de tratá-la mal física e verbalmente, vive de seguro desemprego e da pensão que deveria ser usada para cuidar da sua primeira neta apelidado de "Mongo", por ser portadora de síndrome de Down. O comodismo fica com os dias contados quando Preciosa é expulsa do colégio por estar novamente grávida e é designada a procurar uma escola alternativa, que possa ajudá-la a melhor lidar com sua vida. Lá Preciosa a encontra motivação, uma realidade mais agradável e menos cruel. Ela é acompanhada pela professora Rain (Paula Patton) e a assistente social Weiss (Mariah Carey, em uma participação relativamente pequena, porém memorável).Seu único refúgio é um mundo paralelo: seus próprios sonhos, e como é bom ver os sonhos de Preciosa.

Lee Deniels usa a câmera da mão boa parte do tempo. É um artifício que gosto bastante, particularmente, pois sempre aumenta a realidade dos filmes. E quando não se trata de realidade - os sonhos de Preciosa - ele usa uma câmera mais firme, mais clássica. Preciosa é, acima de tudo, um filme forte e impactante a toda hora. As revelações familiares nos deixam sempre boquiabertos, mas neste caso as grandes revelações são na verdade as causas. Porque Preciosa está grávida pela segunda vez? Porque ela é obesa? Porque tem baixa-estima e é solitária? Porque Mary a maltrata tanto? E Daniels, escolhe à dedo os momentos certos de suas revelações.

Não fosse o ótimo elenco, pouco daria certo na película. Vemos a estreia de Gabourey Sidibe como a sofrida Claireece Preciosa Jones, sua atuação é exatamente como a personagem exige: uma adolescente conformada e com baixa-estima, fazendo com que esconda, por exemplo, o fato de não saber nem ler nem escrever. E Mo’Nique? Bem, digamos que ela é um monstro indestrutível em sua atuação fantástica. Toda cena com Mo’Nique e Sidibe é linda de se ver, a força que cada enquadramento de Daniels carrega é impressionante. Porém um dos pecados do filme é ser uma pura mesmice, embora seja muito bom de se ver. São temas que já foram retratados por muitos outros cineastas. Mérito de Lee Daniels não tornar o filme uma melancolia fútil e também arrancar boas atuações de todo o elenco. Mas pode ser até exagero dizer que é um grandioso filme.


Preciosa - Uma História de Esperança
(Precious: Based on the Novel Push by Sapphire, EUA, 2009)
Direção: Lee Daniels Roteiro: Geoffrey Fletcher, Ramona Lofton Elenco: Gabourey Sidibe, Mo'Nique, Paula Patton, Mariah Carey, Sherri Shepherd, Lenny Kravitz, Stephanie Andujar, Chyna Layne, Amina Robinson, Xosha Roquemore, Angelic Zambrana, Aunt Dot, Nealla Gordon. Drama. 110 min.

6 comentários:

  1. Preciosa é um filme Precioso! E que merece toda atenção possível, a direção de Lee Daniels é precisa, e é claro temos em vista o quanto ele soube dirigir seu elenco.

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  2. Um filme que vale principalmente pelo trabalho do elenco, uma vez que todas as atrizes estão ótimas. De resto, é apenas um drama competente que não merecia tanta atenção.

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  3. Sr. Moreira, tenho que discordar do último parágrafo de sua crítica, pois não achei que em nenhum momento o filme se torna uma mesmice ou mesmo que ele não se beneficia tanto por tratar de temas já narrados em outros filmes - eu, por exemplo, nunca vi essa história sendo filmada com a mesma veracidade. Com exceção de "Up", é o meu filme favorito entre todos os indicados.

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  4. É um filme bem legal e que perto desses indicados ao Oscar (a maioria dos indicados são superestimados) fica mais interessante. Não considerei apelativo como achei que seria e achei um filme repleto de boas atuações...

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  5. Pra mim, Rafa, apenas um drama. Pedante, quase sempre. Piegas, algumas vezes. Claro, Daniels não deixa tudo ir por água abaixo, mas entrega uma direção fraca demais. Enfim, fora o elenco, que é perfeito, é um longa que sequer merecia metade de todo o estardalhaço que conquistou.

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  6. Aceita parceria?
    www.ruidodeumclaquete.blogspot.com

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